
SOBRE
Ivy Lemes é uma artista visual, designer, produtora de Moda e stylist paranaense.
Nascida em mil novecentos e oitenta e oito, iniciou sua trajetória na arte ainda criança quando, aos oito anos, pintou as primeiras paisagens, naturezas-mortas e abstrações.
Interpretações lúdicas sobre sensações, sobre o cotidiano, sobre o Eu e sobre O Todo são a essência de suas representações visuais. Entre as características estéticas mais marcantes de suas pinturas estão o contorno preto e as figuras humanas minimalistas, desconstruídas e incompletas que se fundem com a paisagem e outros elementos.
Formas simples e um amplo universo de referências, da literatura às texturas, desenham suas mensagens rasas e profundas. Acredita que toda arte é autorretrato.
Aprecia, e é, os opostos, os contrastes, as discordâncias. Utiliza três ou mais adjetivos combinados. Escreve o nome dos números. Vive em Curitiba.
P O R E S C R I T O
Pequenos textos autorais sobre mim.
Ivy Lemes
A R T E ,
F O T O G R A F I A ,
D E S I G N
E M O D A
Do itinerário
Esquadrinhar o que criamos é encontrar composições desenhadas pelo próprio itinerário. Experiências que pareciam superficiais ou breves, até elas, estão ali.
Abandonei temporariamente a pesquisa e a busca por novas referências para estudar meu próprio caminho criativo, suas linhas estruturais e cores puras.
Pensar minhas representações visuais à luz do que vivi é estimulante. Percebo que mesmo em traços abstratos conservo um certo compromisso com a arte clássica dos quadros pintados com tinta a óleo ainda criança. O primeiro contato com a arte profissional, teoria das cores, luzes e sombras, volumes e efeitos realistas, solidificou indispensáveis lições sobre artes visuais que, combinadas à inventividade da infância, estabeleceram escolhas estéticas que permanecem.
Um pouco mais tarde estudei fotografia. Com câmera analógica e número limitado de poses (!), aprendi sobre iluminação, lentes e enquadramento. O último era meu objeto favorito de estudo. Nas fotos de detalhes, um enquadramento diferente é capaz de transformar visualmente o objeto em outra coisa, em coisa alguma ou “alterar" sua posição e relação com o restante da cena. Nos meus desenhos, a alusão a esses recursos fotográficos está posta.
O design e a moda vieram mais tarde, na graduação e na profissão. Apesar da intensidade desse ciclo, por vezes subestimei a influência que a moda, sua história e prática, exerce sobre meu fazer artístico. Ao lado da fotografia, é determinante nos enquadramentos e poses. Também está nas representações femininas geometrizadas e esguias. Há ainda a estamparia, especialmente as listras e as bolinhas, atemporais e pop ao mesmo tempo, além da lógica das coleções, da sobreposição de estilos, entre tantos outros fundamentos.
Toda essa bagagem coexiste na arte que apresento a partir de agora.
Neste retorno, reconheço e reverencio a trajetória e o envolvimento único com as formas de comunicação visual que fazem parte da minha história dentro e fora da academia.
Um rico percurso revisitado, desmembrado, recombinado e traduzido aqui. Genuinamente.
Curitiba, maio de vinte e quatro.
S U P E R D O T A Ç Ã O ,
T D A H ,
E A R T E
Buscando integridade
Confirmar a hipótese de superdotação explica dilemas e escolhas do meu histórico pessoal e artístico. Como se não bastasse uma condição atípica, a descoberta do TDAH colocou mais algumas pastas no meu abarrotado arquivo mental. Para confundir e para explicar. Não necessariamente nesta ordem.
O diagnóstico de dupla excepcionalidade preencheu lacunas e iluminou características. Concepções flexíveis, em constante mudança e costurando opostos, e reações hipersensíveis são alguns exemplos. O caos criativo, a capacidade de conectar ideias aparentemente desconexas e de produzir conclusões incomuns também fazem parte do funcionamento cognitivo divergente.
Com potencial expressivo, esse emaranhado de pensamentos hiperativos e abertos a receber um milhão de novas ligações nunca se apresentam conclusivos. Alteram-se o tempo todo. Velozes e vivos! Impedindo a materialização, embaraçando a comunicação e atrasando a comercialização das ideias. O TDAH dificulta a atenção dirigida e o perfeccionismo faz da superdotação uma potencial inimiga.
O domínio da percepção visual validado cientificamente evidencia minha predileção pelo simbólico e justifica a decisão de trazer essas primeiras e breves palavras sobre neurodivergências para este espaço dedicado ao meu fazer artístico.
Figuras incompletas, preto e branco e cinza (!), contrastes de cor e escolhas estéticas que pairam indecisas entre o figurativo e o abstrato são efeito e tradução das minhas letras: AH/SD e TDAH.
O desejo de difundir o subjetivo e a arte, seu entendimento e importância para a construção de si, e a vontade de dizer sobre o ilógico e sobre as inconsistências das doutrinas (qualquer uma delas) ganharam novos contornos.
Um laudo, quem diria, talvez seja o ponto de partida para edificar algo que antes não fazia sentido: um manifesto artístico!? Não só.
Talvez seja, ainda, o propulsor de contribuições para a ampliação de uma consciência direcionada à inclusão, à empatia e ao questionamento das verdades coletivas absolutas.
Arte como (e no) meio.
Talvez. Por isso.
Curitiba, agosto de vinte e quatro.
O U T U B R O D E
V I N T E E Q U A T R O
Aquele sentimento de fim e início
Em outubro de vinte e quatro completo trinta e seis.
Peço (re)encontrar o céu, o mar, a arte. Deslumbrar-me com trivialidades. Vitrais, xícaras, edifícios.
Demolir velhas construções. Construir unindo os pedaços a novos achados. Ler mais.
Ver cor. Nos corpos, no quadro, no prato. Conhecer e criar tonalidades. Capturá-las em fotos de fim de tarde. Guardá-las em memórias.
Acordar.
Curitiba, setembro de vinte e quatro.
B O L I N H A S
E L I S T R A S
Dos elementos
Bolinhas e listras são elementos presentes em boa parte do meu trabalho artístico por serem capazes de representar diferentes "figuras" e inúmeras sensações.
As bolinhas se transformam em flashes luminosos, gotas ou vapor de água. Também já foram sementes e simbolizaram a textura da pele. Além disso aparecem em preenchimentos, uma referência à estética da pop art.
Em oposição às listras podem representar o contraste entre emoção e razão, caos e ordem, natural e construído, e outras contraposições.
As listras traduzem as camadas existentes nos seres, humanos ou não. Marcam ainda o que é exato e estampam detalhes que representam o pensamento objetivo, contrário e complementar ao universo lúdico.
Rio de Janeiro, março de vinte e quatro.
T E C N O L O G I A ,
M O V I M E N T O ,
R E L A Ç Õ E S
Breves palavras sobre o Museu do Amanhã
Li que o Museu do Amanhã é um local para exposição de ideias, não de objetos. Embora entenda todos os museus e espaços culturais dessa forma, a definição é uma boa maneira de resumi-lo.
Tecnologia, movimento, relações. Três palavras, ou melhor, ideias, que sintetizam minhas reflexões ao experenciar o Museu do Amanhã em março de vinte e quatro.
A tecnologia é presente na construção pós-moderna projetada pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava, na estrutura das mostras, nas discussões propostas e em obras como a escultura cinética "Fluxos", do americano Daniel Wurtzel, na exposição “Cosmos”.
O movimento constante, da natureza e do homem, é outro conceito posto em pauta em diferentes momentos. Na exposição principal, “Cosmos”, assistimos os fluxos naturais do ar, dos continentes, dos mares e percebemos a atividade do pensamento e fazer humano. Em “Sentir o mundo”, o movimento invisível dos micro-organismos e pequenos seres é ampliado. Literal e figurativamente.
As relações. Em tudo e entre todos. Associando seres vivos entre si e com o meio desde o início dos tempos. Beneficiando-se e sofrendo o impacto da tecnologia no agora. Causa e efeito do movimento.
Mais perguntas que respostas.
Como escolho viver a tecnologia, o movimento, as relações? Como a compreensão de cada um desses conceitos se materializa nos meus dias, na minha arte? Colapso ou “uma imensa rede de afetos”?
Curitiba, julho de vinte e quatro.
S O B R E T E L A
Liberdade para criar
Poucas decisões foram tão importantes quanto a de libertar minha arte dos suportes e materiais tradicionais.
Não existem palavras para descrever o que sinto ao ter nas mãos os tecidos, os fios e cordões, as bolinhas de resina e canutilhos. Menos ainda para nomear o que transborda quando combino esses objetos às telas e tintas.
No caos da minha mente e coração, há anos em busca de um caminho, as coisas começam a fazer sentido.
Curitiba, março de vinte e cinco.

O U T R A S T R O C A S
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@ivylemesarte